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Conexões Espirituais: Culturas Indígena Brasileira e Japonesa

Por Lina Saheki




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A religiosidade dos povos originários do Brasil e a religiosidade japonesa, embora geograficamente e culturalmente distantes, compartilham uma profunda reverência pela natureza, uma visão cíclica do tempo e práticas rituais que buscam harmonizar o ser humano com o cosmos. Este artigo explora essas conexões, destacando as similitudes e peculiaridades que tornam essas tradições espirituais ricas e únicas.


A Reverência pela Natureza


Ambas as tradições possuem uma relação íntima com a natureza, vendo-a não apenas como um recurso, mas como uma entidade sagrada. Nos povos originários do Brasil, como os Guarani e os Yanomami, a natureza é habitada por espíritos e deidades que governam diferentes aspectos do mundo natural. Por exemplo, o "Nhanderu", o espírito criador dos Guarani, está presente em todos os elementos naturais, desde as florestas até os rios. Bartomeu Melià, em El Guaraní Conquistado y Reducido*, descreve:


"Para os Guarani, a selva não é apenas um ambiente para a sobrevivência física, mas um lugar de encontro com o divino."


Ailton Krenak, em Para Adiar o Fim do Mundo*, reflete sobre a cosmovisão indígena:


"A natureza não é um lugar de recursos, é um parente."


No Japão, o xintoísmo apresenta uma visão similar, em que os "kami" (espíritos ou deidades) residem em elementos naturais como montanhas, árvores e rios. Estes kami não são deuses distantes, mas espíritos que coexistem com os humanos e podem influenciar suas vidas diárias. Yukitaka Yamamoto, em Kami no Michi: The Way of the Kami*, observa:


"Os japoneses sentem que os kami estão presentes em todas as coisas. Este sentimento não é de temor, mas de um profundo respeito e gratidão."


Shuichi Sato explora essa interação em O Tempo e o Espaço na Cultura Japonesa*:


"Os kami estão presentes em todas as coisas, refletindo uma interconexão profunda entre a natureza e os seres humanos."


A Visão Cíclica do Tempo


Outra similaridade significativa é a visão cíclica do tempo. Para os povos indígenas do Brasil, o tempo é visto como uma série de ciclos naturais e rituais que refletem a renovação constante da vida. Esta perspectiva é evidente nas celebrações agrícolas e nos ritos de passagem, que marcam as transições e os renascimentos na vida individual e coletiva.


No Japão, o tempo também é percebido ciclicamente, especialmente nas práticas xintoístas e budistas. Os festivais sazonais (matsuri) celebram as mudanças nas estações e os eventos importantes do calendário agrícola, reforçando a ideia de que a vida é uma série de ciclos interconectados. Thomas P. Kasulis, em Shinto: The Way Home*, explica:


"A ciclicidade do tempo no xintoísmo reflete uma compreensão profunda da interconexão entre os seres humanos e o cosmos. Os festivais sazonais não apenas comemoram eventos passados, mas também renovam a energia vital para o futuro."


Práticas Rituais e Harmonia Cósmica


As práticas rituais em ambas as tradições buscam estabelecer e manter a harmonia entre os seres humanos e o universo. Nos povos originários do Brasil, os rituais frequentemente envolvem danças, cânticos e oferendas aos espíritos da natureza. Esses rituais não são meramente cerimônias religiosas, mas formas de assegurar a saúde, a prosperidade e a continuidade da vida. Alex Polari de Alverga, em Forest of Visions: Ayahuasca, Amazonian Spirituality, and the Santo Daime Tradition*, descreve:


"Os rituais dos povos amazônicos são atos de comunicação direta com os espíritos da floresta, uma maneira de pedir orientação e agradecer pela abundância da natureza."


No Japão, os rituais xintoístas e budistas também são centrais para a vida espiritual. As cerimônias de purificação, as orações nos santuários e as festividades religiosas são maneiras de honrar os kami e buscar a harmonia cósmica. Ian Reader, em Religion in Contemporary Japan*, explica:


"Os rituais xintoístas não são vistos apenas como deveres religiosos, mas como parte essencial da vida cotidiana, ligando as pessoas aos ritmos naturais e espirituais do mundo ao seu redor."


Conclusão


A religiosidade dos povos originários do Brasil e a religiosidade japonesa, embora distintas em muitos aspectos, compartilham uma visão do mundo profundamente enraizada na natureza e na ciclicidade do tempo. Ambas as tradições buscam harmonizar o ser humano com o cosmos por meio de práticas rituais que celebram a interconexão de todas as coisas. Esta perspectiva espiritual oferece uma visão rica e complexa da vida, convidando-nos a apreciar e respeitar a beleza e a profundidade do mundo natural.


Referências Bibliográficas


ALVERGA, Alex Polari de. Forest of Visions: Ayahuasca, Amazonian Spirituality, and the Santo Daime Tradition. Rochester, VT: Park Street Press, 1999.


KASULIS, Thomas P. Shinto: The Way Home. Honolulu: University of Hawaii Press, 2004.


KRENAK, Ailton. Para Adiar o Fim do Mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.


MELIÀ, Bartomeu. El Guaraní Conquistado y Reducido. Asunción: Centro de Estudios Paraguayos Antonio Guasch, 1986.


READER, Ian. Religion in Contemporary Japan. Honolulu: University of Hawaii Press, 2020.


SATO, Shuichi. O Tempo e o Espaço na Cultura Japonesa. São Paulo: Estação Liberdade, 2021.


YAMAMOTO, Yukitaka. Kami no Michi: The Way of the Kami. Tokyo: Tuttle Publishing, 1997.



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